quarta-feira, 8 de outubro de 2008

A REVOLUÇÃO COMEÇA EM NÓS


Ernesto Che Guevara

Sinos tocavam, centenas de milhares de pessoas saíam às ruas e se abraçavam em incontida alegria. Desse modo, na madrugada do dia 1° de janeiro de 1959, Camilo Cienfuegos, Raúl Castro, Fidel Castro e Ernesto Guevara foram recepcionados pelos cubanos ao tomarem o poder através da Revolução. Cuba entrava numa nova era e Che participaria da mesma de forma crucial. Mais tarde, tomado pelo espírito revolucionário, deixa Cuba e se engaja na luta contra a opressão em outros países oprimidos. Tornou-se assim um símbolo de um novo tipo de revolucionário.

A infância

Ernesto Guevara nasceu em Rosário, Argentina, em 14 de junho de 1928, em uma família de classe média alta, porém sem fortuna. Teve quatro irmãos. Sua mãe, Celia de la Serna y Llosa, descendia do último vice-rei do Peru e seu pai, Ernesto Guevara Lynch, era arquiteto, engenheiro civil e um militante político. Participou de campanhas para brecar a propaganda nazista na América durante a Segunda Grande Guerra, fez parte da oposição a Juan Perón na Argentina e apoiou a resistência republicana na Guerra Civil Espanhola. Aos dois anos de idade Che Guevara começou a sentir os primeiros sintomas da asma que o atormentaria para o resto de sua vida. Sofrendo violentíssimas crises asmáticas era obrigado a permanecer longos períodos longe da escola estudando com os pais. Em certas noites, Guevara Lynch dormia sentado na cama do filho, com a cabeça do filho apoiado em seu peito para ajudá-lo a suportar os ataques de asma. Aos 12 anos mudou-se para Córdoba, segunda maior cidade argentina, onde morou perto de uma favela. A discriminação para com os mais pobres era comum à classe média argentina, porém Che não se importava e fez várias amizades com os favelados. A biblioteca da família reunia cerca de 3000 livros, e Che começou a interessar-se por poesia, filosofia, arqueologia e história. Em sua vida pode-se notar uma maior influência do lado materno.

A peregrinação eo interesse pela causa

Cinco anos mais tarde mudou-se novamente, agora para Buenos Aires. Havia decidido estudar medicina, mas amava viagens e aventuras. Finalmente em 1949, ao lado de seu amigo Alberto Granado, aventurou-se em uma longa viagem de bicicleta pela América Latina para conhecer seus habitantes e suas condições de vida, história e geografia. Sua bicicleta motorizada logo deu sinais de cansaço e estragou; porém o sonho não teve fim. No Peru, trabalhou com leprosos e resolveu se tornar um especialista no tratamento da doença. Che saiu dessa viagem chocado com a pobreza e a injustiça social que encontrou ao longo do caminho e se identificou com a luta dos camponeses por uma vida melhor.Mais tarde voltou à Argentina onde completou seus estudos em medicina. Foi convocado para o exército, porém, no momento estava incompatibilizado com a ideologia peronista. Não admitia ter de defender um governo autoritário. Portanto, no dia da inspeção médica, tomou um banho gelado antes de sair de casa e na hora do exame teve um ataque de asma. Foi considerado inapto e dispensado.

Já envolvido com a política, em 1953 viajou para a Bolívia e depois seguiu para Guatemala com seu novo amigo Ricardo Rojo. Foi lá que Guevara conheceu sua futura esposa, a peruana Hilda Gadea Acosta e Ñico Lopez, que, futuramente, o apresentaria a Raúl Castro no México. Na Guatemala, Arbenz Guzmán, o presidente esquerdista moderado, comandava uma ousada reforma agrária. Porém, os EUA, descontentes com tal ato que tiraria terras improdutivas de suas empresas concedendo-as aos famintos camponeses, planejou um golpe bem sucedido colocando no governo uma ditadura militar manipulada pelos yankees. Che ficou inconformado com a facilidade estadunidense de dominar o país e com a apatia dos guatemaltecos.A partir desse momento que se convenceu da necessidade de tomar a iniciativa contra o cruel imperialismo. Com o clima tenso na Guatemala e perseguido pela ditadura, Che foi para o México. Alguns relatos dizem que corria risco de vida no território guatemalteco, mas essa ida ao Méxica já estava planejada. Lá lecionava em uma universidade e trabalhava no Hospital Geral da Cidade do México, onde reencontrou Ñico Lopez, que o levou para conhecer Raúl Castro. Raúl se encontrava refugiado no México após a fracassada revolução em Cuba em 1953. Eles se tornaram "instantaneamente" amigos e depois Raúl apresentou Che a seu irmão mais velho, Fidel. Do mesmo modo, foi amizade à primeira vista. Tiveram a famosa conversa de uma noite inteira onde debateram sobre política e, ao final, estava acertada a participação de Che no grupo revolucionário que tentaria tomar o poder em Cuba. Che relata essa noite:

"CONHECIO-O (FIDEL) NUMA DAQUELAS NOITES MEXICANAS FRIAS, E LEMBRO QUE NOSSA PRIMEIRA DISCUSSÃO FOI SOBRE POLÍTICA MUNDIAL. POUCAS HORAS DEPOIS - DE MADRUGADA -, EU JÁ ERA UM DOS FUTUROS EXPEDICIONÁRIOS. NA REALIDADE, DEPOIS DA EXPERIÊNCIA VIVIDA EM MINHAS CAMINHADAS POR TODA A AMÉRICA LATINA E DO ARREMATE NA GUATEMALA, NÃO ERA DIFÍCIL INCITAR-ME A PARTICIPAR DE QUALQUER REVOLUÇÃO CONTRA UM TIRANO, MAS FIDEL IMPRESSIONOU-ME COMO UM HOMEM EXTRAORDINÁRIO. AS COISAS MAIS IMPOSSÍVEIS ELE ENCARAVA E SORRIA [...] PARTILHEI DO SEU OTIMISMO. ERA HORA DE FAZER, DE COMBATER, DE PLANEJAR. DE DEIXAR DE CHORAR PARA COMEÇAR A LUTAR"

A partir desse momento começaram a treinar táticas de guerrilha e operações de fuga e ataque. Mais tarde, Che lembrou esse período:

"MINHA IMEDIATA IMPRESSÃO AO OUVIR A PRIMEIRA LIÇÃO FOI A DA POSSIBILIDADE DE VITÓRIA, DA QUAL EU TINHA MUITAS DÚVIDAS QUANDO ME JUNTEI AO COMANDANTE REBELDE (CASTRO). eU ESTAVA LIGADO A ELE SOBRETUDO PELOS LAÇOS DA AVENTUROSA E ROMÊNTICA SIMPATIA, E PELA CONVICÇÃO DE QUE VALIA A PENA MORRER EM UMA PRAIA ESTRANGEIRA POR PURO IDEAL"

Em 25 de novembro de 1956 os revolucionários partiram para mudar a história cubana.

Surge o guerrilheiro

Chegando em Cuba enfrentaram forte ataque do ditador Fulgêncio Batista e sofreram várias baixas. Os que sobreviveram se dispersaram, passaram dias perambulando pela mata, enfrentando doenças, fome e iludindo tropas do governo que os perseguiam. Durante esses dias o então médico do grupo de guerrilheiros fez a crucial escolha que mudaria a história. Sendo atacados por aviões, um homem perto de Guevara deixou cair seu carregador de munição. Relata Che: "Foi, talvez, a primeira vez em que fiquei diante do dilema de escolher entre minha devoção à medicina e meu dever como soldado revolucionário. Ali, a meus pés, estavam a sacola cheia de medicamento e uma caixa de munição. Seria impossível carregar as duas, eram demasiadas pesadas. Eu peguei a munição, abandonei os remédios e comecei a atravessar o descampado, tentando chegar ao canavial". Reunidos em Sierra Maestra Cienfuegos, Raúl, Fidel, Che e mais treze guerrilheiros reorganizaram-se e, com o crescente apoio dos camponeses, foram travando e vencendo pequenas batalhas com Fulgêncio. Nesse momento, Guevara já se destacara como um dos mais competentes guerrilheiros e, assim, Fidel concedeu-o o posto que até então só ele possuía, o de comandante. Enfim, em 1959 a Revolução Cubana se concretizava e os guerrilheiros tomavam o poder.

A estratégia política de Che

No novo governo instaurado, Fidel assumiu o cargo de primeiro-ministro e os outros revolucionários, apesar de não terem cargo oficial, eram, juntamente com Fidel, quem detinha o poder. Já versado em Marx e Lênin e defensor dos ideais comunistas, mas não do comunismo ortodoxo ao qual era averso, Che defendia a revolução cubana como o início de um processo revolucionário através da América Latina. Em 1959, Guevara, que já havia recebido de Fidel a cidadania cubana por seus serviços prestado à revolução, redige A Lei da Reforma Agrária, concedendo terra a milhares de camponeses que passavam fome e viviam na miséria. Para aplicar a Lei, criou-se o Instituto Nacional de Reforma Agrária, o INRA. Este logo converteu-se no mais importante organismo do país. Já com Fidel como presidente, Che foi nomeado ministro da Indústria, tornando-se o encarregado da industrialização em Cuba, que já estava adotando o caminho socialista com rapidez.

Os programas propostos por Guevara tiveram grande aceitação popular, pois a vida dos cubanos melhorava muito, e, em novembro de 1959, Che foi nomeado presidente do Banco Central. Negociou a venda do açúcar cubano para a URSS, o que impulsionou a economia cubana, uma vez que os EUA já tinham decidido não mais comprar açúcar cubano em revelia ao comunismo vigente na ilha. Guevara criou o órgão de planejamento central, que controlava a economia cubana e o plano de nacionalizações, que transferiu para o Estado toda a indústria de base pertencente a corporações estrangeiras.
Para ele a revolução deveria ser voltada à mudança da consciência individual e dos valores dos cidadãos, gerando um novo homem, desprovido do egoísmo, individualismo e demais males gerados pelo capitalismo. Com isso, incentivou os cubanos a trabalharem duro, se dedicarem à revolução e a desenvolverem uma nova escala de valores. Na frustrada tentativa norte americana de invadir Cuba e retomar o poder, Che, ao lado de Raúl Castro e Juan Almeida, liderou o exército cubano na defesa da ilha. Foi um sucesso.

Agravada pelo bloqueio imposto pelos EUA e pela hostilidade do sistema financeiro mundial, a diversificação da produção agrícola cubana não apresentava resultados. Guevara até assumiu que havia errado na tentativa de diversificar a prdução agrícola de uma única vez, ao invés de fazê-la gradualmente. No final de 1963, Che começou a atuar na diplomacia e relações internacionais. Visitou inúmeros países, como Egito, Índia, Paquistão, Japçao, China, URSS, em busca de apoio político e econômico. Sacudia o mundo com inflamantes discursos. Provocava a ira da ONU e da OEA ao denunciar as explorações imperialistas. Porém, começou a criticar a URSS, por considerar a mesma incapaz de fornecer ajuda adequada aos movimentos revolucionários. Dizia: "Os países socialistas têm o dever vital de fazer dessas revoltas contra o sistema capitalista um sucesso". Declarações como essas desagradaram alguns dirigentes cubanos que desejavam um estreito relacionamento com Moscou. Quando chegou a Cuba ficou desaparecido 18 meses. Cogitou-se que havia morrido, rumores corriam por todo o mundo. Na verdade, nesse tempo Guevara e Fidel estavam tentando definir qual seria o papel do guerrilheiro dentro da revolução cubana.

A libertação da América Latina

O grande desejo de Che era uma revolução continental, a libertação da América Latina do julgo imperialista, e, mais tarde, a libertação do mundo. Assim sendo empreitou-se em revoluções na Venezuela, Congo e, mais tarde, na Bolívia. Nos dois primeiro não obteve êxito e disse: "Não havia desejo de lutar, os líderes da oposição eram corruptos. Numa palavra, não havia nada a fazer. O elemento humano fracassou". Considerando Cuba como "apenas uma passo em sua luta latino-americano" partiu para a Bolívia.

Muitos diziam que a saída de Che de Cuba fora causada por um desentendimento com Fidel, mas este desabafou: "Ninguém sabe o que eu sentia por ele. A seu próprio pedido, guardei silêncio durante seis meses, e isso foi muito difícil. Havia pessoas que já falavam que eu o tinha matado. No México, quando ele se juntou à expedição do Granma (nome do navio que conduziu os revolucionários do México até Cuba), foi combinado que, uma vez bem sucedida a revolução, iria embora lutar em outras revoluções. Não sei como fui capaz de o manter em Cuba por tanto tempo. Mas eu tinha prometido que poderia partir quando quisesse e que eu não tentaria trazê-lo de volta".

Fidel e Che acreditavam que uma revolução na Bolívia, seria o estopim de revoluções por toda a América Latina. Guevara iria preparar os guerrilheiros e Fidel o ajudaria mandando pessoal, recursos e dinheiro. Fazendo uso de um passaporte falso, Che entrou no país, porém suas complicações começaram quando Mario Monje, presidente do Partido Comunista Boliviano, negou apoio a Che, pois insistia em comandar a revolução. Ganhou a solidariedade de alguns dissidentes, mas eram em pouco número e completamente despreparados. Che começou a treiná-los, mas eram vítimas constantes de moléstias e grandes dissidências. Até mesmo Che sofria graves crises asmáticas. Então, Fidel anunciou que Guevara estava em algum país da América do Sul preparando uma revolução. Regimes direitistas em todo o continente tremeram. Mas, na realidade, Che e alguns poucos homens estavam lutando para sobreviver. Ao contrário de Sierra Maestra quando contavam com o apoio dos camponeses, na Bolívia nem um único camponês aderiu à revolução. Eram índios que falavam pouco espanhol e viam Guevara com estranheza. Os camponeses viam Che e seus seguidores como "estranhos tentando iniciar uma guerra, e não como libertadores do povo oprimido".

Assim sendo, informavam ao exército a localização dos rebeldes. A guerrilha na Bolívia jamais reuniu mais de 47 homens, porém obteve grandes vitórias sobre o exército local. Mas, em 31 de agosto, os bolivianos encontraram e aniquilaram grande parte dos guerrilheiros. Restavam apenas 17. O fim se aproximava.
Em 8 de outubro realizou-se a batalha fina. Os guerrilheiro foram encurralados e Che recebeu vários tiros antes da captura. Sangrando muito, cambaleante, sentou-se no chão com as costas apoiadas na parede, respirando debilmente, quando o chefe da companhia que o capturou, o capitão Gary Prado desferiu uma rajada de metralhadora sobre Che. O golpe de misericórdia foi dado pelo coronel Andrés Selnich. Morria o homem Ernesto Che Guevara. Nascia o mito Che.

Suas idéias inspiraram vários movimentos de esquerda em vários países depois de sua morte. Na França contra o conservador Charles De Gaulle, nos EUA contra a participação norte americana na Guerra do Vietnam, no México quando aconteceram as primeiras manifestações contra o Partido Institucional Revolucionário. Na África, eclodiu a guerra de guerrilha em quase todos os países nos vinte anos seguintes à morte de Guevara. Em todos esses movimentos Che estava presente em bandeiras, faixas, camisas e, principalmente, nas mentes e nos corações dos revolucionários.

"Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais conseguirão deter a primavera inteira" Ernesto Che Guevara

"Nossos filhos devem possuir as mesmas coisas que as outras crianças, mas eles devem também ser privados daquilo que falta às outras crianças" Ernesto Che Guevara

"O individualismo deve ser, no futuro, o completo aproveitamento de todo o indivíduo em benefício da coletividade, mas para mudar de maneira de pensar é necessário sofrer mudanças interiores, e assistir a profundas mudanças exteriores, sobretudo sociais" Ernesto Che Guevara

"Vale milhões de vezes mais a vida de um único ser humano do que todas as propriedades do homem mais rico da terra" Ernesto Che Guevara

"O verdadeiro revolucionário é guiado por grandes sentimentos de generosidade; é impossível imaginar um revolucionário autêntico sem esta qualidade" Ernesto Che Guevara

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